Agir femininamente nos torna mais fortes do que podemos imaginar

Agir femininamente nos torna mais fortes do que podemos imaginar

Pensando acerca das principais diferenças entre os homens e as mulheres, constato que não há uma resposta simples. Começando pela distribuição dos cromossomos no núcleo celular, sabemos que no óvulo existem 23 cromossomos, todos iguais, com a forma parecida à de um X.  Dentre os 23 cromossomos do espermatozoide, um tem a forma de Y.   Assim, é o homem, quem determina o sexo da prole: a união de um cromossomo Y com o X do óvulo gera um menino; X com X faz nascer menina. Mas a diferença também é quantitativa, pois, a loteria desse casamento de cromossomos parece favorecer os homens: estatisticamente, para cada 100 meninas que vêm o mundo são concebidos 105 meninos.

Mas não é só o X ou XX da questão. Os indivíduos com cromossomos XX geralmente tem órgãos sexuais e reprodutivos femininos e é designado como do sexo feminino. Já para os que têm cromossomos XY geralmente tem órgãos sexuais e reprodutivos masculinos e, são designados como do sexo masculino. Isso não exclui outras combinações de cromossomos, hormônios e órgãos que podem levar uma pessoa a se considerada intersexual. Temos também os transgêneros, pessoas que nascem com características de um sexo físico, mas identificam-se com o sexo oposto.

Muitas outras coisas diferenciam o sexo masculino, do feminino. Não estamos falando em gênero. Enquanto sexo se refere às categorias inatas do ponto de vista biológico, ou seja, algo relacionado com feminino e masculino; o gênero diz respeito aos papéis sociais relacionados com a mulher e o homem. O gênero muda no espaço e no tempo.  Toda sociedade é marcada por diferenças de gênero, havendo, ainda, grande variação dos papeis associados, em função da cultura e do tempo em que se vive.

 Mas voltando ao tema que motivou essas linhas, num primeiro instante, o sexo cromossômico de uma pessoa só se manifesta no embrião entre a sétima e a décima semana de vida. Até então, menino e menina se assemelham. A partir daí, o cromossomo Y faz com que certos tecidos, cuja tendência seria formar ovários ou glândulas sexuais femininas, se transformem em testículos ou glândulas sexuais masculinas. Os estudos científicos mostram que uma pequena produção de hormônios no feto, de alguma maneira deixa no cérebro uma marca (ainda não localizada), que o faz trabalhar ou à maneira masculina ou feminina.

A forma de trabalhar, é a única divergência entre o cérebro masculino e o feminino. Durante muito tempo se falou na diferença de tamanho: de fato, o cérebro da mulher pesa em média 1,400 Kg. Mas, na atualidade, os cientistas sabem que o tamanho do cérebro não documenta necessariamente inteligência. Na realidade, nem homem nem mulher usam todos os seus neurônios, de maneira que o tamanho do cérebro dá e sobra tanto para um como para outro. Estudos mostram que a única diferença importante ocorre na região cerebral do hipocampo, que trabalha de forma contínua nos homens e ciclicamente nas mulheres. Alguns cientistas dizem que o hipocampo feminino atua de modo mais sofisticado.  O crânio também difere conforme o sexo, embora não se saiba por quê. A mulher tem o osso frontal da testa mais reto, o ângulo nasal mais aberto. Já o homem tem uma protuberância na altura das sobrancelhas e arcos nasais mais fechados. O hormônio masculino, provavelmente pelo mesmo motivo que provoca o desenvolvimento de músculos, torna os ossos mais fortes nos homens.

Fato que o hipocampo governa a hipófise – a glândula-mãe situada no cérebro, na altura das sobrancelhas que comanda as demais glândulas do organismo. Na criança, verifica-se o funcionamento de todo o conjunto de glândulas, à exceção das gônadas ou glândulas sexuais. Um belo dia, a hipófise manda um comando, iniciando a puberdade. Os testículos comecem a produzir testosterona, o hormônio masculino. Já nas mulheres, primeiramente, a hipófise ordena que os ovários fabriquem uma série de hormônios do grupo chamado estrógeno. No pico dessa produção, há uma queda brusca; então, a hipófise determina que os ovários produzam um segundo hormônio, a progesterona.

É como se existisse um relógio no organismo feminino: ao longo do mês, a taxa hormonal do homem é sempre a mesma; na mulher, varia conforme o dia do ciclo menstrual. Assim, vemos que o corpo feminino está continuamente se preparando para a gravidez. As mulheres nascem com uma média de dois milhões de óvulos em seus ovários. Nesse sentido, por cada ovulação ocorrida durante a sua vida reprodutiva, cerca de 1.000 desses óvulos passam por um processo de morte celular programada. Dessa maneira, o número de óvulos com que as mulheres nascem determina também o tempo durante o qual ela se mantém fértil.

Mesmo diante dessas visíveis diferenças fisiológicas, continuo questionando onde está a tão falada alma feminina? Não só no corpo, mas essencialmente, na mente. Seria esse o sentido de agirmos femininamente?

A força com que a grande maioria das mulheres pensa e age é que nos torna singulares.  Na verdade, somos um grande mistério. Guardamos em nossas entranhas o dom da vida. Embalamos nossas crias nos braços até que ela possa andar. Amamentamos, guardamos o sono, cuidamos nas doenças e somos capazes de ter o remedinho certo para tudo – aquele que cuida do joelho ralado ao coração partido.  Acarinhamos, educamos, mimamos (e brigamos muito também).

Sofremos por culpas que carregamos, pela falta de tempo, pela eterna divisão entre as tarefas de casa, do trabalho, nossa vida amorosa, e dos nossos caminhos educacionais. Somos capazes de abrir mão de tantas coisas em prol do bem estar da família.

Rogamos para o dia ter mais que 24 horas para que possamos dar conta de nossos muitos afazeres.  E temos fases na vida em que estamos eternamente cansadas. Esse cansaço transborda no físico, no mental e até mesmo no existencial. Mas basta um sorriso, um abraço ou mesmo um chamado da cria, que estamos novamente aptas ao bom combate.

Quando os filhos crescem e ganham rumo na vida, bate em nós a síndrome do ninho vazio. Relembramos o passado e sentimos falta de toda a trabalheira que as crianças traziam e todas as alegrias que desfrutávamos com as pequenas conquistas deles ou delas.

Costuma-se falar na fragilidade como uma característica feminina. Mas será que é isso mesmo?  Pelos exemplos de mulheres que referenciaram a minha vida, prefiro pensar que somos fortes. Mais fortes do que podemos imaginar!

E para concluir deixo aqui transcrito, um lindo trecho da música Mulher de Elba Ramalho:

“Pra descrever uma mulher não é do jeito que quiser

Primeiro tem que ser sensível se não é impossível

Quem vê por fora não vai ver, por dentro o que ela é

É um risco tentar resumir

Mulher”

Andrea Keust  Bandeira de Melo é juíza titular do Trabalho na 8ª Vara do Trabalho do Recife ( TRT-6), conselheira pedagógica da Escola da ABMT (Associação Brasileira de Magistrados do Trabalho) e pós-graduada em Direito à Saúde e Direito Médico e Psicologia Jurídica.

Publicado em: 08/03/2021 09:55:00

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